quinta-feira, 24 de junho de 2010

Causas Nobres

Os princípios e os sonhos se foram com os anos. Os ideais e as conquistas ficaram esquecidos no tempo.
Nós não temos mais causas nobres para defender.
Não temos mais escravos para libertar, não temos que lutar pelo fim do Império e pelo nascimento da República.
Não temos que lutar contra ditadura alguma.
Não temos que reinvindicar os direitos das mulheres.
Não temos Anita Garibaldi para nos conduzir até um sonho republicano. E também não temos grandes pensadores como Rousseau para nos inspirar.
Não somos mais os sans-cullotes, nem cristãos que se entregam ao suplício e a cova dos leões em nome de algo maior que acreditamos.
Não temos que lutar por nada que valha coragem, esforço, dedicação e sonhos.
Nós não temos mais causas nobre pra defender.
Nós não temos mais causas nobres pra defender?
Temos sim. E muitas.
Acontece que as causas nobres que buscamos estão escondidas, camufladas pelo comodismo que nos assola e também as nossas vidas. O comodismo que o capitalismo e a modernidade nos trouxeram, que apagaram em nós a chama que muitos morreram defendendo.
A chama que não tem nome, nem cor, nem raça, nem definição. Chama que acende onde houver um sonho, uma esperança, um ideal.
Uma chama sem religião mas que está em todos os cultos de boa fé.
Chama que aquece os corações oprimidos e esquecidos.
As causas nobres estão aí, é só nós tirarmos a venda imposta e colocada aos nossos olhos e vermos com clareza que o mal que assola o mundo não desapareceu.
Ainda temos pessoas que vivem em situações piores do que a da escravidão. Pessoas que vivem em situações tão ou mais degradantes que dos escravos de outrora. Pessoas que não conhecem a maestria sobre suas próprias vidas, que são açoitadas, que dormem no chão e são discriminadas pela cor. Escravos sim. E eles precisam, não de carta de alforria, mas precisam ser vistos, compreendidos e livrados dessas condições desumanas. Precisam de dignidade.
O Império está aí para quem quiser ver, tão ou mais escroto e nojento do que os impérios passados. E o sonho da República ainda canta nos corações sinceros, porque eles sabem que isso aqui, que nós chamamos de República, tem de dela só o nome, porque a essência ficou esquecida e adormecida no passado.
As ditaduras impostas são calejantes, ditadura da rotina, da beleza, do comportamento. Ditaduras mil! E quem vai sair às ruas enfrentar o inimigo da liberdade, se o inimigo dorme, acorda e faz tudo conosco?
E será que mais uma vez as mulheres terão que queimar seus soutiens? Quem respeita as mulheres dentro de um ônibus apertado, com tantas pessoas? Não são elas as principais vítimas de abuso, estupro e tantas outras barbaridades?
Cadê o direito de ser reconhecida pelo próprio esforço? Não. As mulheres não conseguem as coisas na vida porque são bonitas, ou gostosas ou porque tem marido rico! Elas lutam, sofrem e conquistam todos os seus sonhos pelas próprias mãos... e unhas! rs ( salve aqueles projetos de mulheres, mas isso é assunto pra outro post.)
Temos Anitas por todo o mundo. Elas são mulheres anônimas, que vivem suas vidas comuns, mas que se dedicam a causas igualmente nobres. São mulheres dentro ou fora de comunidades carentes, mulheres que se doam e se entregam àquilo que acreditam com todo o amor!
Assim como dentro de cada um que tem um ideal, que pensa que realmente tem razões de ser pode ter um Rousseau dentro de si.
Não somos sans cullotes, nem cristãos na cova dos leões. Somos cidadãos comuns, crucificados pela massificação da vida, pela robotização da mente.
As causas nobres estão aí.
Crianças, mulheres, velhos, homens, pessoas por todo mundo precisam de nosso auxílio.
A mata, as florestas, o verde clama pelos nossos olhares e braços. O que faremos pra salvar o nosso planeta doente e debilitado?
O ar que respiramos já é cinza, e não haverá mais água para beber se continuarmos fechando nossos olhos.
Os animais, em breve, serão apenas figuras nos livros. E os livros serão apenas páginas na internet.
Os princípios ainda são os mesmos. Mudaram apenas a forma, de tempo e de espaço.
Cabe a cada um tirar a venda da hipocrisia, deixar a luz da verdade nos fazer enxergar o que está bem a nossa frente, sempre esteve e de alguma forma não quisemos ver.
Cabe a cada um acender a chama, aquela chama que guiou os grandes homens da humanidade, e deixar que ela nos conduza para um mundo melhor.




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